Friday 28 August 2009

You can all go home. It's over. So over.

Se a nossa relação fosse uma casa, seria uma de duas assoalhadas. Uma casa construída com tempo, muito tempo, cheia de janelas e cuja porta de entrada se encontra virada para o Norte. Até agora escapuli-me vezes sem conta pelas janelas da nossa casa, da nossa relação. À socapa, escapava-me de ti para braços de outros homens. Mais fortes, mais compreensivos, mais cultos. Amei-te de todas as vezes que fui de outros homens. Amei-te de todas as vezes que fui tua. Regressava a casa pela porta, limpava pés no tapete de entrada e lavava mãos da facada que nos fui dando, com o tempo. Muito tempo. Mantivemos a casa limpa, fosses tu tão atento quanto és asseado, meu querido. Discutimos mais vezes que o que consideraríamos ideal, ou até normal para os casais nossos amigos. Fugia para o primeiro andar e trancava-te no rés-do-chão. Não te ouvia nem tu a mim, os berros chegavam aos vizinhos e podíamos vender a mágoa em bancas de limonada fresca, como quando éramos novos e apaixonados. Porque foi isso que voou pela janela - a paixão. Com ela, os alicerces da nossa casa. E os outros homens amaram-me mais que tu. E eu amei-os mais a eles que a ti. Aos seus braços mais fortes, mais compreensivos, mais cultos. Hoje a nossa casinha ruiu e eu saí pela porta principal. Perdi o meu Norte mas chamei-te ao jardim para conversarmos. Não me vou escapulir mais pela janela, desculpar-me com as minhas amigas ou as habituais dores de cabeça. Somos demasiado crescidos para vender limonada na rua e não posso ficar mais. Já não tenho idade para fugir pela janela, aprendi valores que superam a culpa e a mentira. Perdoa-me e, se puderes, arranja coragem para voltar a amar. A construir uma nova casa, térrea, cujas janelas sejam tão-só clarabóias e os alicerces sejam incondicionalmente indestrutíveis. Uma casa longe das ruínas da nossa.

5 comments:

B. said...

Pudesses ver os meus olhos que se inundam de orgulho por saber que desta vez és capaz de te sentares no jardim e vires embora sem olhar para as ruínas que ficaram!

We all knew you could do it!

love you.

Angela Ferraz said...

e eu gosto deste rosa que me faz lembrar o teu amor de duas assoalhadas, o vicio em sexo da B e o medo de pombas da E. são óptimas de ler, sem duvida alguma!


(by the way, quem não é viciado em sexo, hun?)

E. said...

Babe, you can do it...já chega de te desculpares as tuas amigas. Já chega!

Poppins said...

Escreves tão bem!

Copas said...

Uauuh! Parabéns. Escreves mesmo bem...

É de fazer corar alguns escritores nacionais.
Continua assim, vais num bom caminho. ;)

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