Se a nossa relação fosse uma casa, seria uma de duas assoalhadas. Uma casa construída com tempo, muito tempo, cheia de janelas e cuja porta de entrada se encontra virada para o Norte. Até agora escapuli-me vezes sem conta pelas janelas da nossa casa, da nossa relação. À socapa, escapava-me de ti para braços de outros homens. Mais fortes, mais compreensivos, mais cultos. Amei-te de todas as vezes que fui de outros homens. Amei-te de todas as vezes que fui tua. Regressava a casa pela porta, limpava pés no tapete de entrada e lavava mãos da facada que nos fui dando, com o tempo. Muito tempo. Mantivemos a casa limpa, fosses tu tão atento quanto és asseado, meu querido. Discutimos mais vezes que o que consideraríamos ideal, ou até normal para os casais nossos amigos. Fugia para o primeiro andar e trancava-te no rés-do-chão. Não te ouvia nem tu a mim, os berros chegavam aos vizinhos e podíamos vender a mágoa em bancas de limonada fresca, como quando éramos novos e apaixonados. Porque foi isso que voou pela janela - a paixão. Com ela, os alicerces da nossa casa. E os outros homens amaram-me mais que tu. E eu amei-os mais a eles que a ti. Aos seus braços mais fortes, mais compreensivos, mais cultos. Hoje a nossa casinha ruiu e eu saí pela porta principal. Perdi o meu Norte mas chamei-te ao jardim para conversarmos. Não me vou escapulir mais pela janela, desculpar-me com as minhas amigas ou as habituais dores de cabeça. Somos demasiado crescidos para vender limonada na rua e não posso ficar mais. Já não tenho idade para fugir pela janela, aprendi valores que superam a culpa e a mentira. Perdoa-me e, se puderes, arranja coragem para voltar a amar. A construir uma nova casa, térrea, cujas janelas sejam tão-só clarabóias e os alicerces sejam incondicionalmente indestrutíveis. Uma casa longe das ruínas da nossa.
Friday, 28 August 2009
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5 comments:
Pudesses ver os meus olhos que se inundam de orgulho por saber que desta vez és capaz de te sentares no jardim e vires embora sem olhar para as ruínas que ficaram!
We all knew you could do it!
love you.
e eu gosto deste rosa que me faz lembrar o teu amor de duas assoalhadas, o vicio em sexo da B e o medo de pombas da E. são óptimas de ler, sem duvida alguma!
(by the way, quem não é viciado em sexo, hun?)
Babe, you can do it...já chega de te desculpares as tuas amigas. Já chega!
Escreves tão bem!
Uauuh! Parabéns. Escreves mesmo bem...
É de fazer corar alguns escritores nacionais.
Continua assim, vais num bom caminho. ;)
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