Friday 28 August 2009

Almoço do passado.

Um dia, era eu a menina a crescer para o mulher, amei um menino a crescer para o homem. Esse menino, J., era o meu sol, a minha chuva e a minha música. As palavras tão cultas que saiam daquela boca, que eu desejava a todos os instantes, eram a minha bíblia e o meu corpo era o palco do tão complexo actor que me tinha com um só olhar. Nunca lhe admiti este amor pela palavra "amo-te", nunca lhe disse por pensar que havia ainda muito caminho a percorrer até o mesmo verbo poder ser pronunciado com a mesma intensidade pelas duas bocas. O tempo fez o que tinha a fazer e a vida levou-o para longe de mim. Janela fora foram todas as palavras bonitas, os toques e tudo mais que é cor-de-rosa demais para ser recordado. Janela dentro ficaram as promessas de permanecermos amigos ligados por uma troca de sms ocasionais.

Tempo passou-se. Ele arranjou uma miúda, morena como eu sempre quis ser, ele continuou com a vida dele. Eu, presa a um coração demasiado agarrado, não segui em frente com tanta facilidade. Eu, presa a um coração demasiado agarrado, senti-me traída sem razão de ser. Ele, com o coração já agarrado a outro, sentiu-se injustiçado. Nós, corações incompatíveis por tudo de que são (foram) feitos, discutimos, utilizamos as mais feias armas que possuíamos e armamos uma guerra capaz de derramar mais sangue do que tínhamos para derramar.
Hoje, após meses a lamber as feridas pós-guerra, pegamos no orgulho, pusemo-lo de lado e fomos almoçar.


Ele estava igual, sabem? Mas Eu não. Eu já não tinha os óculos cor-de-rosa postos e já não o julgava o Homem da minha vida. Já não julgo. Compreendo agora que Ele nunca me fez tão bem quanto julgava. Quando estamos demasiado em contacto com o negro, acabamos por escurecer também e eu gosto tanto da minha côr clara.
Cheguei a casa, atordoada de te ouvir falar da tua vida nova, dos novos amigos, do novo curso, do novo tudo e ainda assim peguei na tua velha fotografia e enfiei-a na mala. Já não sou Mulher de me torcer por ti, mas a nova Eu deve-se à tua ausência.
Mesmo sabendo que chocolate faz engordar, dá espinhas e mais o quê, comemos.- Um amigo meu perguntou-me assim "Why do we always go for the bad-ass ones? We know they're no good. We still want to fuck them though". O meu amigo tinha muita razão. Só gostamos do que nos faz mal.

10 comments:

Emma said...

adorei, está tão envolvente! Acabas em grande " Só gostamos do que nos faz mal" . Vou seguir o teu blog! um grande beijinho *

Mariana Neves said...

gostei e BASTANTE. parabéns, puseste em palavras - quase - o que ando a tentar por á uns tempos.

vou seguir (:

Maria ♥ said...

podes ter a certeza que é verdade. o fruto proibido...

S* said...

Oh quando se ama ve-se o mundo cor de rosa. Mas tirando os oculos, vê-se tudo muito muito mais escuro.

Marianinha said...

também tu me pareces nova com o coração colado, e isso é bom!

vou adicionar o blog :) adorei as apresentações! ^^

beijinho *

Mara said...

«Só gostamos do que nos faz mal.»

Nunca tinha por cá passado e gostei muito do que li. Tens toda a razão. É estúpido o facto de só gostarmos daquilo que nos faz mal. Mas a verdade é que assim o é. Revi-me nas tuas palavras, quase que me imaginei daqui a uns tempos a dizer que ele já não é o homem da minha vida e que nunca me tinha feito verdadeiramente bem. É pena. Porque, hoje, é ele o tal e podia sê-lo amanhã.

David Pimenta said...

Adorei esta tua casa, este cantinho que faz parte de três pessoas.
Não sabia da existência deste blog.
Mas fiquei mesmo encantado, a sério. Vou andar atento aos teus textos ;D
um beijinho :*

death by chocolate said...

se andavas à procura de textos bonitos acho que não foste dar com o espaço errado :P

aviso: os autores, suas fontes de inspiração não são exemplo para ninguém e a credibilidade anda próxima do zero.

o prazer é todo meu.

eduardo maria morgado said...

bem, antes de mais, muito obrigado (:
posso dizer-te, também, que este espaço tem algo que me encantou. mesmo.

vou seguir.

B. said...

agora vives muito mais, és tu sem medos e receios. não te deixas ficar pelo que é fácil, e vais à procura do que realmente tu sonhas.
agora és os teus sonhos personificados, agora és tu.

love you.
B.

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