Thursday 20 August 2009

Presentations: Penelope

Sou mulher de convicções. Cresci a julgar que sabia exactamente o que queria, sabia exactamente onde procurar e agia com um fim último: encontrar um amor eterno. Ceguei pelo caminho, na busca incessante, e, ingénua miúda então, apaixonei-me, plena. Estudava rumo a Direito. Detestava todas as aulas de Geografia, períodos históricos aborreciam-me e estudava Biologia com a melhor amiga nos tempos livres. Fascinava-me o corpo humano, as plantas, a vida. A dada altura, já não tão miúda assim, a vida trocou-me as voltas. O tão aclamado amor eterno foi-o só até deixar de o ser e troquei Direito por Saúde numa só semana. A família ficou em rebuliço, a direcção da escola chamou-me impulsiva e inconsciente. Mudei de curso, de turma, de horários. Sou mulher de convicções. Convenci-me a entrar de postura altiva e reservada, agia com um fim último: formar-me em Saúde e amigos seria optativo. Teria sempre os de Humanidades, não queria dar-me a miúdos de Ciências a partir do zero, seria esgotante voltar a contar tudo de mim, deixar que o vissem sequer - o que sou. Pois sou mulher de convicções, ou sempre me julguei sê-lo. Até que a vida chega e me troca as voltas. A melhor amiga que comigo estudava Biologia foi-o até deixar de o ser, conheci das pessoas mais marcantes no novo curso. As que me apaixonavam pela vida que transbordam e partilham, qual livro aberto. A vida volta a fazer das suas e destinos apartam-nos. Hoje não sinto qualquer convicção que não a de me saber perdida. Nunca disse vezes suficientes "amo-te" a amigos porque julguei o amor único de um homem. Vejo-o agora, enquanto a minha pessoa preferida faz as malas para Londres. Sinto-o agora, enquanto me preparo para ver uma tão doce amiga partir para Aveiro. A cúmplice de sempre, para Lisboa. Choro, com tanta facilidade quanto sentimento. O amor da minha vida? Pois esse deixou de o ser e não o sabe, ainda. Não haverão lágrimas aqui, outros virão.

Despeço-me das minhas convicções e saúdo a vida como ela o é: louca, desprevenida, inconstante. Talvez por me identificar tanto com ela. Fosse ela viciada em sapatos altos, cafés, Anatomia de Grey e sexo e seríamos almas-gémeas. Eu e a vida, a partir de agora, começamos da estaca zero. Seja esgotante ou não, vou em frente.

2 comments:

E. said...

Quando entraste por aquela turma de miudos com a vida a pulsar-lhes nos corpos e nos livros, vinhas com a postura de mulher segura de si. Menina a querer ser mulher no meio de meninos. Não demorou a que acompanhasses o nosso crescimento e que deixasses o teu lado maternal (de mulher a revelar-se) vir ao de cima.


É a nova temporada da nossa vida. E está tão urgente, tão deliciosa e eminente. Venha ela, nós estamos aqui, por muito grandes que sejam as voltas que a tua alma gemea nos pregue, não serão maiores que a nossa alma.


E.

B. said...

Vais em frente, porque sempre foste essa mulher de convicções, segura de si (não tivesses tido tu a força de mudar o rumo que te trouxe até nós - don't they say that everything happens for a reason?).
Vejo-te sempre com um coração tão grande e tão bom, sempre pronto a amar. Porque tu és assim, mulher forte e de convicções, que ama, ama com segurança e com todo o amor que tem.

Nós estamos contigo e com a vida, na estaca zero.

B.

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