Friday 28 August 2009

We're not friends.

Durante estes meses todos fomos como aqueles autocarros que passeiam pelas cidades e que os turistas tanto gostam de apanhar, sentando-se nos lugares de cima para tirar melhores fotografias, que quando regressam mostram aos familiares e amigos, e contam como foram as suas férias maravilhosas. Chamam-se autocarros: Drop on, Drop off. As pessoas compram o bilhete, entram no autocarro, fazem questão de se sentarem nos melhores lugares e ainda acenam às pessoas que vão a pé. Saem quando estão fartas de estar sentadas: ou porque está calor, ou porque querem conhecer melhor aquela parte da cidade, ou porque querem ir à casa de banho, ou por tantas outras coisas. Uma vez satisfeitas as necessidades voltam a entrar no autocarro, porque já compraram o bilhete, e por isso podem, porque se o autocarro é de Drop on / Drop off, as pessoas fazem isso mesmo: entram e saem, sem dar justificações a ninguém.
Meu querido, que fomos nós mais que um autocarro de drop on / drop off durante estes meses? Fizemos os dois gato sapato do coração um do outro, e no fim a culpa perdeu-se no vento, porque nem eu a tenho, nem tu a escondeste. O único problema foi não nos cansarmos de andar de autocarro ao mesmo tempo, e de tu quereres saír quando eu queria entrar, e de eu me ir embora e rasgar o bilhete quando tu ainda querias dar mais uma volta. Entraste no autocarro e apanhaste-me de surpresa. Sentaste-te ao meu lado sem pedir licença e eu pouco me importei. A tua espontaneidade aliciou-me, e que escolha tinha eu se não deixar-te entrar sem justificações? Levantaste-te e foste embora sem avisares com antecedência, e eu nem tive coragem para me mexer. Saímos e entramos umas quantas vezes, sempre desencontradas, até que nos voltamos a sentar um ao lado do outro, mais uma vez. Levantei-me e saí. Alguem tinha de ser o primeiro, e eu nunca fui muito de autocarros, e estas viagens já me tinham deixado enjoada. Vim embora com o coração nas mãos como que à procura de um lugar para o pousar (que sorte em ter a Pe. e a E. comigo nas melhores e nas piores alturas). Tinha sentido demais, tinha-te dado demais. Era o meu primeiro grande amor, amor a sério, que querias que fizesse? Queria vivê-lo ao sabor do vento, sem medos e preocupações. Amor de Hollywood.
Hoje digo que não somos amigos. Depois de uma tarde de conversas e compromissos e promessas entre três amigas, comprometi-me a não me deixar seduzir pela tua espontaneidade, de apareceres sempre quando eu não espero, e de fazeres sempre o que eu não prevejo (you know why I like to watch movies I've already seen? Because I like knowing how things are gonna turn out). Por isso eu fui, de alma tranquila e coração aos pulos por não saber o que viria de ti. Deste-me um sorriso, a tua mão na minha cintura, e rejeitei tudo isso. Tu não me queres de volta, nem eu a ti. Mantive a minha postura de "non-friends" e esperei pelo fim até te voltar a encontrar. Deste-me mais um sorriso, a tua mão na minha cintura, e ainda um abraço com direito a mimo. Não percebeste meu querido, para já não somos amigos, e só por eu ter lá estado não significa que eu esteja à tua procura (your turn to write the story, not mine). Tu não me queres de volta, sabes bem disso. Despedi-me na incerteza do que pensas que somos sem admitir que ainda gostava que te deixasses de preguiças e que fizesses mais que "estenderes-te e comeres" quando não entras em cena, que se "gostas [assim tanto] de me ver" podias querer ter-me mais que um número da agenda telefónica para o qual ligas ou mandas mensagens quando bem queres e te apetece. Hoje não somos amigos, mas é a tua vez de arregaçares as mangas e de te mexeres.

This love has taken its toll on me, He said goodbye too many times before.

10 comments:

Raspberry said...

Este texto está realmente bem escrito. Adorei a comparaçao com o autocarro, amei. Apesar de toda a história que está por trás!
Foi mesmo a melhor opçao.
Vê-se que tens personalidade forte vá :)

E. said...

Adorei baby, a tua escrita esta cada vez mais madura.

se ele quiser, ele trabalha. Mas também nao fiques a espera. Ele pode simplesmente ter-se cansado também da viagem.

meus instantes e momentos said...

ótimo texto.
Parabens pelo blog.
Maurizio

Emma said...

essa compração ficou tão perfeita, apesar da história |: mas o texto está fantástico, gostei muito! um beijinho

Chiquitita said...

Porque não experimentas sair desse autocarro e fazeres o mesmo caminho a pé?

Chiquitita said...

Talvez ele corra na tua direcção. :)

David Pimenta said...

foi uma surpresa agradável encontrar este cantinho, com textos tão bem escritos.
adorei a comparação com os autocarros *

Andreia said...

Amo todo o blog *-*

Raspberry said...

Eu concordo :)

Ana Carolina said...

Concordo com a ideia de sair desse autocarro e fazer o mesmo acminho a pé.

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