

Já não tenho mais. No Inverno os meus pés estão sempre frios e não há palavras quentes pelo cair da tarde. Anoitece sem desassossegos grandes e leio para mim mesma. Não há paz porque não existem discussões que a antecedam. Mas não há paz porque a solidão, gula, ocupa o espaço todo. Dizem-me que dê tempo ao tempo, que o tempo tudo cura. Mas o tempo só me deixa tempo para pensar no tempo que partilhei contigo. Como eu me sentia viva! Tinha uma cama quente, beijos doces, palavras acesas e um tecto seguro.
Pensei que ia conseguir esquecer-te com algum chocolate e muito sexo. Ou o contrário, tanto dava. Estava redondamente enganada. Não, eu não te amo. Tenho de o dizer alto porque a solidão é demasiado arrebatadora para uma rapariga só e actua pela calada. Não, eu não te amo; digo-o. Mas agora estou num lugar pouco bonito e tem dias, arrebatadores, em que o silêncio mora em mim. E a realidade, nesses dias, abate-se no escuro. É então que penso que fui ambiciosa demais quando disse que tu, a tua vida e o teu amor não me bastavam.